Além de participar do 3º Pré-Enecom, no último sábado, o jornalista Thiago Barros, que também é professor de Comunicação na Universidade da Amazônia (Unama), concedeu uma entrevista por email à Comissão de Comunicação do Enecom.
Thiago terminou recentemente a tese de mestrado “Sentidos da matriz energética brasileira na mídia. Hidrelétricas na Amazônia de FHC a Lula (2001 a 2009)”, pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Confira abaixo a entrevista.
Qual o objeto de pesquisa da tua tese de mestrado?
Como a discussão sobre as políticas públicas do setor energético para a Amazônia são apresentadas pela grande mídia impressa do Sudeste: Globo, Folha de S. Paulo e Estadão.
O que se pode concluir em relação ao discurso midiático sobre a construção da UHE de Belo Monte?
É difícil identificar um discurso único da mídia sobre Belo Monte. No entanto, o conteúdo dos jornais reforça que a mídia é usada como ferramenta de grupos de pressão para influenciar a opinião pública. No período que analisei grupos contrários à construção da usina, por exemplo, têm poucas ocorrências no noticiário.
Qual papel exercido pelas mídias nacional e local na negociação e embate em relação a Belo Monte?
O que as mídias local e nacional deveriam fazer é promover um debate crítico sobre as construções de hidrelétricas, sobre o atual modelo de desenvolvimento vigente no País, que não contempla como deveria as outras dimensões além da econômica. Desenvolvimento também envolve cidadania e sustentabilidade, por exemplo. Se falarmos em "negociação", a mídia atua como elemento que dá visibilidade a argumentos, mas tende a "silenciar" quem não segue as regras do poder econômico.
A partir do estudo, qual o grande nó na construção da usina? O impacto ambiental, os direitos dos habitantes das áreas a serem alagadas ou as transformações pelas quais a região passará no decorrer e após a implantação da hidrelétrica?
Todas as variáveis são importantes nesta questão, mas Belo Monte é inviável financeiramente. Os benefícios da construção da usina para todo o Brasil não justificam a construção de tal obra. O governo poderia resolver o problema do fornecimento de energia com outras soluções, mas segue a lógica do mercado.
Existem alternativas viáveis economicamente para substituir a construção da hidrelétrica?
Reparar problemas nas usinas mais antigas e nas linhas de transmissão, que causam perdas na energia produzida; garantir que usinas como Tucuruí produzam em força máxima, com mais turbinas; utilização de fontes alternativas de energia, como a biomassa e a energia eólica; construção de pequenas centrais hidrelétricas; etc. O problema é que estas saídas alternativas requerem mais dinheiro e diminuem a margem de lucro das empresas interessadas nessas construções.
No período pesquisado (2001/2002 e 2008/2009) o discurso midiático passou por quais transformações? Eles estavam direcionados à legitimação ou à crítica da implantação da UHE?
É preciso discernir discurso da mídia (com interferência dos meios) e discurso tornado público utilizando a mídia. Foquei no segundo ponto. Parto do princípio de que os meios de comunicação são ligados a diversos grupos de pressão, como as grandes empreiteiras, e reproduzem os discursos deles. É evidente nos dois períodos como as grandes empresas pressionam o governo utilizando a visibilidade oferecida pela mídia. A questão é: por que a mídia não dá voz a todos os grupos envolvidos na questão?
Um comentário:
Que beleza de entrevista. Parabéns à Comissão de Comunicação!!
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